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Armas adquiridas no governo Bolsonaro se concentram no Sul e Centro-Oeste

Regiões Sul e Centro-Oeste têm maiores índices de armas de fogo a cada 100 mil habitantes. Norte apresenta taxa maior que Sudeste e Nordeste



As regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil concentram a maior quantidade de armas de fogo adquiridas nos últimos quatro anos, quando se considera a proporção por número de habitantes.

Dados do recadastramento revelam o perfil das pessoas que se armaram durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), com base nos equipamentos comprados a partir de maio de 2019. O Metrópoles teve acesso a esses índices via Lei de Acesso à Informação.

No Sul do país, foram 1.061,8 armas recadastradas a cada grupo de 100 mil habitantes. Na Região Centro-Oeste, a taxa foi de 1.034,5. Ambos os números estão bem acima dos índices registrados em outras regiões do país.

Gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani explica que a Região Sul e estados mais rurais têm tradição de caça e histórico de altas taxas de posse de armas.

“As taxas de Centro-Oeste e Norte me chamam muito a atenção. Já havia uma pista de que isso aconteceria, por causa da expansão acelerada de clubes de tiro, mesmo em cidades bem pequenas dessas regiões”, afirma Langeani.

Os cinco estados com as maiores taxas de armas de fogo por 100 mil habitantes são: Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.

Aumento de homicídios

Bruno Langeani, autor do livro “Arma de Fogo no Brasil: gatilho da violência”, ressalta que a Região Norte teve crescimento de homicídios em 2021, na contramão do restante do país.

Além disso, o especialista apontou que vários estados do Norte e Centro-Oeste, como Mato Grosso, Rondônia, Acre e Mato Grosso do Sul, apresentam alta no número de assassinatos.

“Só a taxa de armas, sozinha, não é o único fator, mas dificulta o controle de homicídios”, destaca.

Mercado ilegal

Langeani acredita que parte do aumento nas regiões Norte e Centro-Oeste foi influenciado pela infiltração de grupos criminosos que recorrem a laranjas ou registram armas em nome próprio, no Exército. Por meio desse esquema, o armamento é utilizado em atividades de milícias rurais ou em apoio a atividades ilegais, tais como o garimpo e a extração de madeira.

“É um afrouxamento do governo que contribui para crimes ambientais e faz crescer o risco para agentes públicos que atuam na fiscalização da região”, ressalta.

Membro do conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o pesquisador Roberto Uchôa destaca que muitos garimpeiros tinham armas legalizadas.

“A gente não pode descartar que a conexão dos mercados de arma legal e ilegal se intensificou. Se antigamente o criminoso precisava de R$ 60 mil, R$ 70 mil para comprar um fuzil, ele passou a comprar esse fuzil por R$ 15 mil no mercado interno”, pontua.

Calibre restrito

Uchôa também alerta para as cerca de 6 mil armas de calibre restrito não recadastradas. Vale lembrar que, nos primeiros meses de mandato, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou o recadastramento das armas no sistema da Polícia Federal (PF), com o intuito de frear a facilitação para a compra de equipamento bélico por civis, durante a gestão de Bolsonaro.

“Há 6 mil armas de calibre restrito que ninguém sabe onde estão. E são justamente esses os equipamentos sobre os quais o país tinha de ter um maior controle, por serem de calibre restrito. Isso é muito preocupante. Muitas dessas armas podem estar na Região Norte”, pondera o pesquisador.


Com informações do Metrópoles - Thalys Alcântara, Mateus Salomão

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