Homem despareceu quando saiu para contemplar mata e não conseguiu voltar. Familiares e bombeiros fizeram buscas por oito dias
Breno Esaki |
O pioneiro de Brasília José Arteiro Ribeiro (foto em destaque), 82 anos, tornou-se a prova viva de um milagre após sobreviver por oito dias perdido em uma área de mata, no Estado de Goiás. Ele foi visto pela última vez em 10 de junho, no povoado de Assunção de Goiás, quando saiu para “contemplar” a floresta e não conseguiu voltar. De acordo com o médico que avaliou o idoso, uma crise de labirintite teria ocasionado a desorientação dele.
Ao Metrópoles, Arteiro contou um relato emocionante de como foram os dias de sobrevivência no mato com apenas um isqueiro, uma chave e R$ 600 no bolso, enquanto aguardava pelo resgate. Para ele, “foi um dos momentos mais difíceis que já viveu ao longo da vida”.
“Eu nunca nem pensei que o ser humano aguentasse tanto tempo assim sem nenhum modo de viver como, por exemplo, tomar água, comer, amanhecer e anoitecer no mato, dormindo no chão, no meio de inseto”, conta ele.
Para o idoso, a fé foi o que permitiu que ele resistisse naquela condição por mais de uma semana. “Eu sempre fui uma pessoa devota para com Deus. Sentia no meu coração Ele falando: ‘Filho, eis me aqui. Estou contigo em todo momento, não se desespere’. E aquilo me preencheu, me dava fé, enchia minha barriga e matava minha sede”, relata.
Assista ao relato completo do idoso:
A família de José mora na área rural de Ceilândia, e o idoso teria ido pescar com os amigos no município goiano. O patriarca, que já morou em região de mata, sabe caçar e é acostumado com esse tipo de ambiente. Porém, para conseguir sobreviver, ele precisou comer casca de árvore e cupim. Para se hidratar, chegou a beber a própria urina.
Em busca do pioneiro, os familiares mobilizaram-se, com apoio dos bombeiros, para conseguir resgatá-lo. André Ribeiro, 39 anos, filho caçula, chegou a percorrer cerca de 30km por dia em busca do pai. Mesmo após os socorristas interromperem as buscas, no sexto dia, ele não desistiu de procurar pelo idoso.
“Estava vivendo um luto todos os dias, pois as pessoas diziam que ele já estaria morto, poderia ter sido comido por uma onça ou se afogado. Mas, dentro de mim, eu acreditava que ele estava vivo. Só que quando os bombeiros desistiram das buscas sem encontrar nada, aquilo foi um abalo muito grande, mas não foi capaz de fazer eu me render”, relembra André.
A procura por Arteiro, enfim, teve um encerramento na manhã de domingo (18/6), quando o filho mais novo teve êxito em localizá-lo. O que era um momento de luto, tornou-se em celebração para a família.
“Quando eu gritei e ele respondeu, soube que era meu pai. Saí correndo no meio do mato, rasgando tudo. Cheguei perto dele, e ele falou bem assim: ‘André, eu sabia que você não ia desistir de mim. Eu estava te esperando, filho’. Eu fiquei alegre, saltitante. Do jeito que o meu coração imaginava, era como ele estava esperando por mim”, fala emocionado.
Rastros
De acordo com o filho do idoso, alguns rastros deixados por ele na mata ajudaram a encontrá-lo com mais facilidade. “Eu cheguei as ver os buracos em cascas onde ele pegava os cupins, pontos de queimada e rastros de pegadas humanas. Quando o vimos, ele estava sentado próximo a uma árvore, comendo jatobá”, detalha.
Para o patriarca, o socorro do filho foi completo, o melhor que poderia ter recebido. Mas, antes de poder finalmente respirar aliviado, ele conta que as noites ao relento foram um dos maiores desafios. “Meu colchão eram as folhas. Acendia uns pontos de fogo nas proximidades para afastar animais e me deitava”, diz.
Dois dias após o resgate, José diz estar no céu e se mostra agradecido pelo reencontro com os 10 filhos. “Graças a Deus, estou muito contente de estar junto com os meus filhos. O tempo todo na mata era intercedendo, pedindo a Deus para não deixar eu morrer sem socorro, sem assistência dos meus filhos. Eu pedia para eles não desistirem de mim”, conta aliviado.
Depois de resgatado, ele foi medicado e ficou um dia internado em um hospital particular. O idoso está bem, apesar dos machucados. Segundo a família, os médicos o orientaram a consultar um nefrologista, especialista em rim, órgão que apresentou maior alteração. O homem ainda tem pressão alta e, mesmo passando todos os dias sem o remédio receitado, ele não apresentou grandes complicações.
Com informações do Metrópoles - Thalita Vasconcelos
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