Silvinei Vasques está detido, por ordem do Supremo, sob suspeita de ter deflagrado operações no Nordeste para tentar interferir nas eleições
Ed Alves/CB/D.A Press |
A prisão preventiva do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, nesta quarta-feira, mostra o cerco se fechando contra bolsonaristas que tentaram atacar a democracia por meio de uma série de investidas, cujo resultado foram os atos golpistas de 8 de janeiro.
Detido em casa, em Florianópolis, Vasques foi alvo da Operação Constituição Cidadã, que investiga suposta interferência da PRF nas eleições de 2022. A ação foi ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Contra o ex-diretor da PRF pesam acusações de ter buscado alterar o resultado do pleito ao tentar impedir, por meio de blitzes em estradas do Nordeste, que eleitores do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegassem aos locais de votação. Nesta quinta-feira, ele deve ser levado para o Complexo Penitenciário da Papuda.
Outros bolsonaristas já foram alvo de Moraes. O ex-ministro da Justiça Anderson Torres passou quatro meses preso, sob suspeita de omissão nos atos golpistas de 8 de janeiro. Ele está solto, mas tem de usar tornozeleira eletrônica. Por sua vez, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, está detido em quartel do Exército desde maio. O militar é investigado em caso sobre falsificação de registros de vacina, inclusive de Bolsonaro, e pelos ataques golpistas.
As apurações contra Vasques começaram após eleitores denunciarem um aumento de operações em 30 de outubro, quando ocorreu o segundo turno das eleições gerais. Na ocasião, vídeos e fotos de barreiras montadas pela corporação em redutos eleitorais de Lula correram a internet e geraram reações de políticos eleitos e candidatos. Na época, Vasques foi chamado Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para se explicar.
Houve especulação de que o então diretor da PRF poderia ser preso naquele dia. Na ocasião, Moraes determinou a interrupção das blitzes e minimizou os efeitos dos bloqueios, afirmando que os dados eleitorais mostraram não ter havido aumento de abstenção.
No entanto, nos últimos meses, a PF identificou diversas mensagens, trocadas em outubro entre Vasques e outros integrantes da PRF, além de documentos e reuniões que corroboram com a tese de que foi montado um esquema para tentar impedir o direito ao voto e interferir no resultado das eleições.
Milhões de votos
Uma planilha encontrada pela PF revela o mapeamento dos votos para o então candidato Lula nas eleições. As anotações citam pelo menos sete milhões de votos em cidades que seriam afetadas por blitzes da PRF no segundo turno do pleito. As informações, que ajudaram a fundamentar a prisão de Vasques, tinham como base os resultados do primeiro turno.
Com base na votação de 5 de outubro, as ações da PRF, de acordo com as apurações, miravam cidades onde Lula teria mais votos no Nordeste. A planilha foi enviada a Moraes, que aceitou o pedido de prisão contra o ex-diretor da PRF.
Três fotos foram encontradas no celular da delegada Marília Alencar com dados da votação. De acordo com a decisão de Moraes, uma das fotografias foi tirada de uma folha de papel com o título "concentração maior ou igual a 75% - Lula".
"Abaixo do título, há um mapa do Brasil e uma lista de municípios, trazendo uma tabela com cidades ordenadas, aparentemente, por ordem de concentração de votos no candidato 'LULA'. Aparecem as seguintes cidades: Crato (CE), Paulo Afonso (BA), Iguatu (CE), Parintins (AM), Candeias (BA), Serra Talhada (PE), Quixeramobim (CE), Canindé (CE), Casa Nova (BA), Araripina (PE), Santo Amaro (BA), Pesqueira (PE), Ouricuri (PE), Barreirinhas (MA), Icó (CE), Cajazeiras (PB) e Euclides da Cunha (BA). Há uma coluna de votos, Cl.ljO número total é 10.073.642. Na coluna 'BOLSONARO', há indicativo de um total de 1.485.294 votos, seguida pela coluna "LULA" com número total de 7.743. 713. As colunas de percentuais apontam 15,37% na coluna '% BOLSONARO' e 80, 15% na coluna '% LULA'", destaca o relatório da PF.
Os agentes destacam que Marília Alencar teria uma reunião, no mesmo dia em que a foto foi tirada, com Anderson Torres. Portanto, a situação dele fica ainda mais complicada.
"É relevante observar que, conforme o tópico anterior deste relatório, havia uma reunião agendada com o ministro para as llh. Sendo assim, como esta imagem foi capturada às 11h23, há fortes indícios de que esta fotografia tenha sido realizada para esta reunião", completa o relatório.
Procurada pelo Correio, a defesa do policial afirmou que recorrerá, pedindo a Moraes para reconsiderar a necessidade da prisão.
Com informações do Correio Braziliense - Renato Souza
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