Tony Oliveira/ Agência Brasília |
R&V: Em tempos de recursos escassos, com a gestão pública em geral enfrentando grandes restrições orçamentárias, naturalmente houve um forte impacto no repasse de verbas para investimentos nos órgãos rodoviários. Como conciliar uma gestão adequada, frente à forte demanda por melhorias na infraestrutura, no âmbito do DER/DF?
FAUZI NACFUR: O Departamento veio evoluindo ao longo dos seus 62 anos de existência, junto com a capital, chegando a um patamar em que tudo é muito organizado e flui bem. Já no primeiro ano de nossa gestão, recebemos os encaminhamentos do governo que estava assumindo, e que havia manifestado para nós a vontade de realizar intervenções em pontos críticos da malha sob nossa jurisdição, para melhorar a fluidez e aumentar a segurança. Então, rapidamente, o DER/DF, intensificou a atualização dos seus estudos, já tendo em vista projetos que fossem capazes de, não só atender às exigências atuais, mas de preparar alternativas que pudessem ser escalonadas para demandas maiores no futuro. Tendo isso em mente, também houve uma maior atenção às restaurações, duplicações e obras cujo objetivo foi o aumento da capacidade de absorção de tráfego, para diminuir operações como “tapa buraco” e outras intervenções que fatalmente acabam retendo o fluxo. Você mencionou a questão dos recursos, correto?
R&V: Exatamente, o “combustível” para obras.
FAUZI NACFUR: Bom, nós tivemos um apoio muito grande, desde sempre, do nosso legislativo. Por meio de emendas parlamentares, nós tivemos uma continuidade nos aportes, algo que se deu também por parte do governo, que teve entendimento e sensibilidade para manter o esforço. Durante a pandemia, nós conseguimos também seguir em frente, com um ritmo de execução muito próximo ao que era normal antes dela. É possível dizer que tivemos um consenso, no sentido de que ao promovermos essas melhorias na vida das pessoas, mantendo a operação dentro das novas medidas sanitárias requeridas, continuaríamos gerando empregos, e consequentemente, influenciando positivamente na economia com esse efeito colateral, que todas as obras de engenharia têm, foi essencial para este momento ruim, de crise e incertezas.
O Departamento foi inclusive acionado para fazer a ampliação do estacionamento de um grande hospital no centro da cidade, para atender a uma demanda completamente atípica, ocasionada pelo Coronavírus. E fomos bem-sucedidos, devido ao esforço de nosso efetivo, que não decepcionou em nada. Neste período, dos últimos anos na verdade, percebo também que o DER/DF, ganhou uma maior versatilidade. Funções novas, que até extrapolam suas atribuições originais, de manutenção, conservação e construção. Somos um case diferenciado entre os DER’s, pois a maioria de nossas rodovias coexiste em um contexto urbanizado, cruzando as cidades satélites. São situações como a da DF-002, conhecida no país inteiro como “Eixão”. É uma rodovia que passa exatamente no centro da capital do país. O Distrito Federal é afinal, o ponto de convergência das rodovias do Brasil.
“Durante a pandemia, nós conseguimos também seguir em frente, com um ritmo de execução muito próximo ao que era normal antes dela. É possível dizer que tivemos um consenso, no sentido de que ao promovermos essas melhorias na vida das pessoas, mantendo a operação dentro das novas medidas sanitárias requeridas, continuaríamos gerando empregos, e consequentemente, influenciando positivamente na economia.”
“Tivemos uma programação muito importante no sentido de melhoria nas áreas rurais, especialmente os ‘Caminhos das Escolas’, e que deram resultados que nos deixam muito orgulhosos. Poder levar conforto, qualidade e saúde para as nossas crianças que estudam nas
escolas dessas regiões.”
R&V: Apesar dessas características, houve pesadas intervenções em áreas mais afastadas também, não?
FAUZI NACFUR: Verdade, nós tivemos uma programação muito importante no sentido de melhoria nas áreas rurais, especialmente os “Caminhos das Escolas”, e que deram resultados que nos deixam muito orgulhosos. Poder levar conforto, qualidade e saúde para as nossas crianças que estudam nas escolas dessas regiões. Devido às características do nosso clima, esse era um problema a ser atacado, por que, durante a temporada seca, os pequenos ficavam expostos ao pó, à poeira das estradas de chão. E durante o período mais chuvoso, sofriam com a lama e todos os problemas que um caminho difícil proporciona. E nós entendemos que resolver isso era absolutamente urgente. Foram feitos vários quilômetros de pavimentação. Fizemos dezenas desses acessos às escolas, e se Deus quiser, poderemos continuar a fazer os restantes. Se por um lado, o DER/DF tem a missão de garantir o acesso seguro, com conforto e rapidez às escolas, também tem contribuído muito ‒ já que falamos de educação ‒ para um dos pilares em direção a um trânsito mais seguro, que é a educação no trânsito. O DER/DF é responsável pela “Transitolândia”, uma cidade em miniatura, mas que conta com todos os dispositivos viários como uma cidade de verdade. Tem sinalização, passarelas de pedestre, toda a estrutura para receber turmas de escolas públicas e particulares para poderem usufruir dessa experiência, aprendendo na prática em um ambiente seguro. O Departamento arca também não apenas com o transporte, mas com a alimentação dessas crianças que nos visitam e que entram na programação para a visitação, com espaço audiovisual para filmes educativos do trânsito e teatro também. Essa verdadeira “escola de trânsito”, a Transitolândia, desenvolve um trabalho que muito nos orgulha, por acreditarmos que as crianças são multiplicadores. Ao mesmo tempo em que aprendem noções importantes para um trânsito seguro, elas também acabam cobrando atitudes mais responsáveis dos adultos, dos seus pais, e isso é muito bacana de ver acontecendo. Toda essa estrutura, associada às campanhas de educação e segurança do trânsito, como o próprio“Maio Amarelo”, tudo isso é coordenado pela nossa Superintendência de Trânsito, que também exerce a nossa parte de fiscalização e aplicação de medidas administrativas para os infratores. Mas nós temos essa prerrogativa de colocar a educação como um ponto fundamental, um ponto o qual nós fazemos muita questão de ser muito atuantes.
R&V: Perfeitamente. E com relação a projetos. Nós sabemos que houve uma dedicação muito grande por parte do DER/DF em termos de “arquitetar” novas possibilidades.
FAUZI NACFUR: Olha, o que eu posso dizer é que sim essa é uma percepção correta. Nós trabalhamos muito no sentido de montar uma boa prateleira de projetos. Desde o início, nossa equipe compreendeu que era necessário assumir alguns posicionamentos importantes, voltados não apenas a servir o distrito com nossa atividade, mas de assumir uma postura de políticas de estado. Independentemente de quem vier a assumir o Departamento, não haverá aquele momento de dúvida, incerteza ou desamparo quanto ao que fazer.
Estamos deixando um portfolio bastante completo, de projetos prontos na mão, trabalhados com muito critério e, claro, obtendo os recursos para tocá-los, eles poderão ser executados por quem nos suceder, tranquilamente.
Entre esses, há muitos de grande relevância, prontos para serem “colocados na praça”, como se diz em nosso meio, entre os quais, cito o “BRT”, que faz a ligação com a área Norte da cidade, que é um grande empreendimento, da ordem de R$ 1 Bilhão; bem como projetos pequenos, com valores menores, de pavimentação, duplicação e restauração, de vias menores, igualmente já prontos, novamente, dependendo apenas da obtenção dos recursos para serem tocados pela nova administração. E nesse aspecto, é preciso destacar a grande atuação da nossa Superintendência de Engenharia, composta de excelentes profissionais, que conseguiram dar vazão à esse upgrade em número de projetos.
“Nós trabalhamos muito no sentido de montar uma boa prateleira de projetos. Desde o início, nossa equipe compreendeu que era necessário assumir alguns posicionamentos importantes, voltados não apenas a servir o distrito com nossa atividade, mas de assumir uma postura de políticas de estado.”
R&V: O senhor disse há pouco, que o DER/DF vem diversificando sua atuação, assumindo funções que às vezes “extrapolam” a sua concepção original. Neste contexto, vemos o departamento muito atento à mobilidade urbana, e isto, naturalmente traz implícito um olhar para modais alternativos, como por exemplo o transporte movido a pedal, não?
FAUZI NACFUR: Sim! Com certeza. De fato, essa pergunta, abre a possibilidade de falarmos não apenas do modal cicloviário, mas de uma percepção ampla e disseminada no DER/DF, que se vê relacionada à mobilidade sustentável. Nós vemos que é preciso haver uma maior priorização do elemento mais frágil do trânsito, que são os pedestres, e na sequência, os ciclistas, motociclistas e assim por diante. Nossa missão é promover uma integração entre esses elementos de uma forma harmoniosa e fluida. No quesito mobilidade sustentável, desde o dia 1 de nossa gestão, todos os projetos de pavimentação já saem acoplados a uma solução voltada para as bicicletas. Todos os projetos são pensados para serem aderentes a uma utilização delas, seja com ciclofaixas ou com ciclovias. Mais que isso, a Superintendência de Engenharia, contempla, não apenas a construção, mas a forma como esse dispositivo irá se relacionar com os outros modais ofertados na capital. Nós entendemos que as ciclovias e ciclofaixas têm que estar integradas no contexto de alimentação, de uso combinado, por exemplo, com um BRT, um Metrô, onde a pessoa tenha a possibilidade de chegar com sua bicicleta, guardá-la num local apropriado e possa seguir viagem por eles, acessando uma “troncal”, com maior agilidade, chegando assim mais rápido ao destino desejado. Assim, é importante lembrar que o DF hoje, é o segundo colocado, em termos de Brasil, em extensão de ciclovias e ciclofaixas, perdendo apenas para a cidade de São Paulo. E temos a intenção de entrar nesta disputa boa, se possível ultrapassando essa grande megalópole. Paralelamente, não descuidamos das nossas faixas exclusivas de ônibus, que podem ser, em algumas situações, e feitos alguns ajustes, serem implantadas no viário existente, a baixo custo relativo e oferecendo bons resultados.
São medidas que podem ser adotadas com maior efeito, pela disponibilidade de veículos em horários alternativos, ao observarmos uma característica do nosso trânsito, que é “pendular”, ou seja, de manhã, com fluxo intenso da periferia para o centro, e ao final da tarde, para o sentido inverso.
“É importante lembrar que o DF hoje, é o segundo colocado, em termos de Brasil, em extensão de ciclovias e ciclofaixas, perdendo apenas para a cidade de São Paulo. E temos a intenção de entrar nesta disputa boa, se possível ultrapassando essa grande megalópole.”
R&V: E isto, naturalmente, implica em operações de intervenção de trânsito pontuais.
FAUZI NACFUR: Exato, não apenas nós atuamos aí com faixas exclusivas e observação de horários alternativos, como também fazemos faixas de reversão, em horários especiais para permitir maior vazão do tráfego. Como eu disse, são ações de baixo impacto orçamentário, baixo custo relativo, mas que trazem consigo uma grande melhora na mobilidade. Claro, que para montagem de uma operação ampla como esta, existe um trabalho de bastidores muito importante de inteligência e monitoramento, realizado pela nossa Superintendência de Trânsito por meio do CCO (Centro de Controle Operacional), com praticamente todas as vias principais com câmeras instaladas. E segurança e fiscalização, não apenas no momento da ação, mas em tempo integral. Aliás, já que tangenciamos esse aspecto de fiscalização, existe uma Parceria PúblicoPrivada, inédita no DF e recentemente assinada por nós, que é relativa à instalação de balanças de pesagem nas rodovias sob nossa jurisdição, pátios de apreensão para pesados, bem como o controle da logística desses veículos apreendidos, com operação de guinchos.
R&V: Como se dava esse processo anteriormente?
FAUZI NACFUR: Nós não tínhamos locais disponíveis para apreensão de grandes veículos. O que o DER/DF conseguia fazer, era a autuação, a expedição da medida administrativa, mas não a retenção do veículo pesado quando havia esta indicação pela natureza da infração. E isto, consistia em um fator de risco, como qualquer um pode supor. Então, com esta PPP, nós passamos a ter essa estrutura disponível, e bem administrada. Isto se reflete em mais qualidade de rodagem, e consequentemente mais segurança, também, uma vez que sabemos que os maiores danos causados aos pavimentos são as águas sem tratamento adequado e o excesso de peso.
R&V: Estivemos presentes no ENACOR, e por lá, havia um extenso debate acerca de faixas de domínio. Como se dá esta realidade no Distrito Federal?
FAUZI NACFUR: Realmente esse é um desafio. Mas aqui nós podemos dizer que somos um dos poucos estados do país com a faixa de domínio totalmente caracterizada, levantada, cadastrada, mapeada e, principalmente, controlada. Por conta disso, nós temos, por meio de lei, a condição de explorar por meio de concessão essa faixa de domínio, com mídias, engenhos e quiosques, de maneira totalmente regulamentada. É algo que nos oferece um ponto de vantagem para eventuais melhorias a serem implantadas no viário.
R&V: De que forma essas concessões se desenvolvem?
FAUZI NACFUR: São concessões a título chamado “título precário”, pois estão sujeitas à necessidade de, eventualmente, nós termos de atuar nessas áreas. Além disso, elas constituem uma fonte de arrecadação, onde esses recursos captados, sob a designação “Fonte 220”, que são revertidos para obras e benfeitorias para a população. É uma forma também de organizar e coordenar a ocupação do espaço.
“Sem perder qualidade, dentro dos nossos processos licitatórios, trabalhando com uma política de descontos, de forma enxuta, tivemos uma economia média de 17%, o que gerou uma redução de quase R$ 59 milhões somente em 2022.”
R&V: Somando todos os investimentos do DER/DF, existe um número absoluto?
FAUZI NACFUR: Podemos falar em algo em torno de R$ 1 bilhão em obras. Em termos de execução, atualmente, pode-se colocar cerca de R$ 400 milhões. Em termos comparativos nacionais, quando se coloca Minas Gerais, São Paulo, pode até representar pouco, mas dentro da nossa realidade do Distrito Federal, foi muita realização. Temos um portfolio com muitas obras de muitas disciplinas e tamanhos. Importante frisar que, sem perder qualidade, dentro dos nossos processos licitatórios, trabalhando com uma política de descontos, de forma enxuta, tivemos uma economia média de 17%, o que gerou uma redução de quase R$ 59 milhões somente em 2022, em um montante que foi e ainda é realocado para outras ações. Isso em um momento muito sensível, em um período pandêmico e de póspandemia, onde ferro, cimento e insumos essenciais, como o asfalto e o diesel, tiveram aumentos ponderáveis que acabam por tornaremse um fator de desequilíbrio. Porém, contamos com o apoio importantíssimo dos Órgãos de controle para conciliar a economicidade necessária para as obras, fazendo os ajustes imprescindíveis para não perder atratividade. Não podíamos promover pregões que dessem “vazio”.
R&V: Em termos gerais, pesando o que a gestão se propôs versus o que ela foi capaz de realizar, qual a sua avaliação?
FAUZI NACFUR: Uma felicidade, uma responsabilidade e um privilégio. O DER/DF conseguiu atingir todos os seus objetivos, diante de cenários muito desafiadores. Obteve êxito em vencer todas as dificuldades, gerando empregos, trazendo melhorias para todos as categorias de usuários, com benefícios para as escolas mais afastadas, que ganharam níveis inéditos de conforto e segurança em seu caminho. Esta é uma gestão que é motivo de muito orgulho. Uma gestão de parceria. Uma gestão que contou com servidores da casa, que possuem ampla experiência no departamento, profissionais e técnicos que conhecem a realidade há mais de 15, 20 anos. Esse fato se reflete em maior precisão, ganho de tempo na tomada de decisões, e em um grande índice de acertos, além é claro da economia para os cofres públicos.
Fonte: EG NEWS com autorização de publicação de Leandro Dvorak Diretor Institucional R&V
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