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Mãe de menina de 12 anos morta no ES escreve carta contra o ódio

A mãe de Selena Sagrillo escreveu sobre a dor de perder a filha: "Todo um futuro interrompido. A custo do ódio, do desamor, do terror"

Foto: Reprodução/Facebook
Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto, mãe de Selena Sagrillo, 12 anos, assassinada em ataque contra escolas no Espírito Santo, divulgou uma carta sobre a morte da filha. Em um computador no quarto de Selena, Thais escreveu sobre amor, tristeza e sobre todas as fases da pequena que não conseguirá viver ao lado dela pela interrupção precoce da vida.

Na carta, Thais clama por amor, piedade e segurança para crianças. “Jamais verei do que ela seria capaz. Ela estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre, feminina. A promessa de uma vida inteira foi desfeita. Todo um futuro interrompido. A custo do ódio, do desamor, do terror”, diz texto publicado pelo Portal G1.

Leia a carta na íntegra:

“Escrevo este texto do computador e quarto de minha filha Selena, que agora amargam sua ausência. Escrevo, pois não tenho mais voz para falar, não tenho mais lágrimas para chorar.

O lamento, a dor e angústia que estavam no meu peito antes, agora, começam a dar lugar ao sentimento de entendimento, aceitação e saudade.

Sentada em meio ao pequeno caos criativo que era seu quarto, encontrei um texto que falou tão profundamente em meu coração que não consigo deixar de compartilhar com vocês, que tanto estão nos dando forças neste momento. O texto dizia:

“Vai ter um dia em que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia é hoje. Eu esperei minha vida inteira. E tudo está bem. Completei meus 11 anos e tinha voltado ao bairro e a escola que cresci depois de dois anos em São Mateus (ES), e eu disse: Vai um dia que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia está próximo.”

Realmente o dia estava próximo para minha filha. Havia 1 mês e cinco dias que ela havia completado 12 anos. O dia de sua morte, dia 25/11, foi também o dia do aniversário de meu pai, e seu avô Jose. Dia 01/12 será aniversario de seu outro avô, Laudérico. Daqui a trinta dias será Natal. Minha filha não verá os próximos jogos da copa do mundo e nunca mais se empolgará com um gol como aquele do Richarlison, que ela achou “incrível”.

Jamais verei do que ela seria capaz. Ela estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre, feminina. A promessa de uma vida inteira foi desfeita. Todo um futuro interrompido. A custo do ódio, do desamor, do terror. Não venho aqui clamar por retaliação, pois de ódio, estou farta.

Clamo por piedade e por segurança para nossas crianças serem as milhões de pequenas revoluções que elas poderiam ser. Segurança nas escolas, ruas, casas. Abrigadas e protegidas de todos os desterros do mundo. Longe da violência, drogas, armas e abusos.

Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução, assim como ela gostava, mas uma revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença.

Esse é um lamento e um grito de uma mãe que padece com a perda de uma filha. Peço que nos mandem orações, amor, energias boas, seja qual for sua crença. Que o mundo se una pela Selena, assim como ela escreveu em seu texto, e por tantas outras Selenas pelo mundo.

Ass. Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto”

Vítimas

Selena é uma das quatro mortes confirmas pela Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (SESA) após ataque de um jovem de 16 anos contra duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, na última sexta-feira (25/11).

Além de Selena, Polícia Civil do Espírito Santo (PCES) identificou três vítimas assassinadas pelo atirador de Aracruz: as professoras Cybelle Passos Bezerra Lara, 45, e Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, 48; e Flávia Amoss Merçon Leonardo, 38 anos. Cinco vítimas ainda seguem internadas.

O jovem começou os ataques na escola EEEFM Primo Bitti, portando armas do pai, e seguiu em direção à escola particular Centro Educacional Praia de Coqueiral, a 700 metros do colégio público. Lá, também atirou por corredores e salas. O jovem foi apreendido horas depois.

Dez tentativas de homicídio

Segundo a PCES, o adolescente responderá por ato infracional análogo a 10 crimes de tentativa de homicídio qualificada por motivo fútil, que gerou perigo comum e com impossibilidade de defesa das vítimas.

Também deve responder por ato infracional análogo a três homicídios qualificados, por motivo fútil, que gerou perigo comum e com impossibilidade de defesa das vítimas.

A polícia levou o adolescente para o Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), em Cariacica, na Grande Vitória. As armas e balas apreendidas foram encaminhadas para o Departamento de Criminalística — Balística da PCES. O caso segue sob investigação.

Armas e símbolo nazista

O adolescente responsável pelo ataque nas duas escolas do Espírito Santo usou uma pistola .40 que pertence ao pai dele, um policial militar.

O atirador também portava um revólver .38 e usou o carro da família para chegar aos dois colégios e fugir depois do crime.

Primeiro, o adolescente invadiu a EEFM Primo Bitti, onde estava matriculado no turno vespertino até junho deste ano; depois, seguiu para o Centro Educacional Praia de Coqueiral, antes conhecido como Colégio Darwin.

Feridos

Outras vítimas do ataque seguem internadas. No mesmo hospital onde estava Flávia, outras duas mulheres, de 52 e 45 anos, seguem também na UTI em estado grave.

No Hospital Estadual de Urgência e Emergência São Lucas (HEUE), uma mulher de 58 anos passou por cirurgia e o estado de saúde é estável.

Já no Hospital Estadual N. Sra. da Glória Infantil de Vitória (HINSG), um menino de 11 anos passou por cirurgia e encontra-se em estado grave. Ainda no mesmo hospital infantil, uma garota de 14 anos passou por cirurgia e segue entubada em estado grave.



Com informações do Metrópoles|Manoela Alcântara

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