Doença rara, mas grave, pode estar associada a produtos artesanais e representa maior risco para bebês; caso recente no DF acendeu alerta sobre cuidados com a higiene e conservação
![]() |
| Sandro Araújo/Agência Saúde-DF |
Alimentos como conservas artesanais, pastas caseiras e temperos vendidos em feiras e mercados populares exigem atenção especial. Quando preparados ou armazenados de forma inadequada, esses produtos podem se tornar o ambiente ideal para o desenvolvimento da bactéria Clostridium botulinum, responsável pela produção da toxina que causa o botulismo — uma doença rara, mas potencialmente fatal, que provoca paralisia muscular.
No mês passado, o Distrito Federal registrou um caso da doença relacionado ao consumo de conserva de pimenta. A ocorrência foi notificada e as unidades de saúde receberam alerta para monitorar possíveis novos casos. O paciente recebeu alta e segue em recuperação, com acompanhamento médico.
Segundo a médica gastro-hepatologista Daniela Carvalho, o botulismo afeta a comunicação entre os nervos e os músculos. “A toxina bloqueia os sinais nervosos, podendo causar sintomas como visão dupla, pálpebras caídas e dificuldade para respirar. É uma condição grave, mas tratável, desde que o diagnóstico seja feito rapidamente”, explicou.
Em bebês, os sintomas podem ser mais discretos — como prisão de ventre, fraqueza muscular, dificuldade para sugar e choro mais fraco. O cuidado deve ser redobrado, já que o sistema digestivo das crianças pequenas ainda não consegue combater os esporos da bactéria. O consumo de mel por menores de um ano, por exemplo, é contraindicado, pois pode conter esses esporos.
Quem costuma comprar produtos prontos ou artesanais deve observar atentamente o estado das embalagens. Tampas enferrujadas, estufadas, amassadas ou com vazamento são sinais de alerta. Alterações de cheiro, cor ou presença de bolhas indicam que o alimento pode estar contaminado. Conservas e pastas precisam ser mantidas sob refrigeração e consumidas dentro do prazo indicado após abertas.
O cuidado deve ser o mesmo para alimentos feitos em casa. É importante higienizar bem os ingredientes com escova e água corrente, esterilizar frascos e tampas por pelo menos 15 minutos, usar potes limpos e bem vedados e manter tudo refrigerado. “Nunca deixe alimentos prontos em temperatura ambiente por mais de duas horas”, alerta Daniela Carvalho. Ela reforça que tampas usadas não devem ser reaproveitadas, pois comprometem a vedação e facilitam a contaminação.
A diretora da Vigilância Epidemiológica do DF, Juliane Malta, destaca que o botulismo é uma doença de notificação compulsória, o que significa que todo caso suspeito deve ser comunicado imediatamente às autoridades de saúde. “Assim que há suspeita, são iniciadas ações de investigação, coleta de amostras, análise laboratorial e orientação às equipes e à população. Também há articulação com a Vigilância Sanitária para retirar de circulação produtos contaminados ou inseguros”, explicou.
O objetivo é detectar precocemente, tratar corretamente e evitar novos casos. Ao perceber sintomas compatíveis com a doença, a recomendação é buscar atendimento médico imediato, já que o botulismo pode evoluir rapidamente e exige tratamento especializado.

Nenhum comentário